Tuesday 18 November 2008


I WISH YOU WELL



Todas as coisas trazem contidas em si o próprio fim. Mais tarde ou mais cedo, de uma maneira ou de outra, quer queiramos quer não, tudo acaba. E embora haja fins mais difíceis de aceitar do que outros, acredito que o fim de uma coisa acaba por criar espaço para o princípio de outra. É o ciclo interminável da vida, a impermanência, a mudança.
Ao Senhor JB eu agradeço do fundo do coração tudo aquilo que me fez sentir durante estes dois anos em que voamos juntos, tudo aquilo que fez despertar em mim.
Ao Senhor JB eu desejo que nunca desista de ser feliz e de ser Ele mesmo e que o futuro Lhe traga tudo aquilo que deseja e que eu não Lhe consegui dar.
I WISH YOU WELL.

MAY THE ROAD RISE TO MEET YOU
MAY THE WIND BE ALWAYS AT YOUR BACK
MAY THE SUN SHINE FULL UPON YOUR FACE
MAY THE RAIN FALL SOFT UPON YOUR FIELDS
UNTIL WE MEET AGAIN
MAY THE GOD HOLD YOU
IN THE HOLLOW OF HER HAND

ENSINA-ME A PASSAR



Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à natureza,
Porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!"


Thursday 13 November 2008


Bonsoir
Ton vehicule n’a pas l`air d`avoir de passager
Peux-tu: Veux tu me recevoir
Sans trop te deranger?
Mes bottes ne feront pas trop d`echos dans ton couloir
Pas de bruit avec mes adieux
Pas pour nous les moments perdus
En attendant un uncertain au-revoir
Parce que-j’ai la folie, oui c’est la folie
Il etait une fois un etudiant
Qui voulait fort, comme en literature
Sa copine, elle etait si douce
Qu’il pouvait presque, en la management
Rejeter tous les vices
Repousser tou les mals
Detruire toutes beautes
Qui par ailleurs, n’avait jamais ete ses complices
Parces qu’il avait la folie, oui, c’est la folie
Et si parfois l’on fait des confessions
A qui les raconter - meme le bon dieu nous a laisse tomber
Un autre endroit, une autre vie
Eh oui, c’est une autre histoire
Mais a qui tou raconter?
Chez les ombres de la nuit?
Au petit matin, au petit gris
Combien de crimes ont ete commis
Contre les mensonges et soi disant les lois du coeur
Combien sont la a cause de la folie

Parce qu’ils ont la folie
Lyrics - Stranglers - La Folie - 1981

Tuesday 4 November 2008

CRIME AND PUNISHMENT


O corpo, todo ele vivo, todo ele desperto, fervilha ainda por muito tempo depois de o Dono ter ido embora, como se tivesse deixado em mim o Seu rasto. Percorro uma a uma as marcas da Sua passagem, como uma via sacra. Concentro-me, ponto por ponto, em cada zona açoitada, em cada sítio sovado. As costas, as nádegas, as coxas, a cona, as mamas, ainda latejam, rubras, quentes, riscadas do chicote, queimadas da cera. O couro cabeludo repuxado, a cara afogueada, o cabelo enriçado. As lágrimas deixam traços de sal , linhas esbranquiçadas sobre a pele vermelha. Aos poucos, uma imensa tranquilidade toma conta de mim.

Monday 3 November 2008

O SENHOR SABE


O Senhor sabe que pode confiar sempre na Sua escrava. Sabe que qualquer ordem que dê será cumprida. Sabe que qualquer desejo que tenha, será realizado. Sabe que por muito que se contorça, se sinta rasgar, estilhaçar, vergar, a escrava não desiste de querer dar ao Dono o seu melhor. Sabe que por muitas dúvidas que ela tenha, por muitos patos e outras aves de criação que ela veja, por muitas voltas que ela dê, a Sua escrava manter-se-á fiel e dedicada ao Dono. Por isso o Senhor não fecha a escrava à chave, não tem receio de a partilhar, a emprestar ou de deixá-la sofrer noutras mãos que não as Suas. Por isso o Senhor dá corda à Sua escrava, deixa-a voar para longe, até muitas vezes a perder de vista. O Senhor sabe que por muito longe que voe, basta o mais leve puxão no fio para ter a escrava de volta aos Seus pés, ansiosa por venerá-Lo.

Tuesday 28 October 2008


Há, no fundo de mim, profundamente intrincado naquilo que sou, uma imensa submissão a Si.
Posso muitas vezes não saber expressá-la, ou perder-me nas suas voltas, mas ela está lá, viva, intensa, cintilante, intocável.
Sinto-a pulsar nas infinitas madrugadas, nas manhãs prometedoras, nos dias que levam consigo a vaga esperança da Sua presença.
E, ainda que ultrapasse a minha compreensão, negar a minha submissão a Si é negar uma parte de mim mesma, só porque nem sempre é palpável. A maior parte do tempo respiro sem ter consciência disso. O meu coração bate sem o meu consentimento. Os meus rins purificam o meu sangue sem a minha intervenção directa. Assim é com a minha submissão a Si. Existe à minha revelia, cresce sem o meu controlo, manifesta-se à margem do meu entendimento. É isso que me mantem viva.

DAR-SE


Dar - do latim dare : fazer doação de, doar; ceder alguma coisa, transferir gratuitamente a posse dela a alguém; alienar; entregar, confiar, pôr em poder de; presentear, brindar, gratificar; prestar, tributar; dispensar; emitir, exalar; ser bom, servir, prestar para; indicar, assinalar, registar, introduzir, penetrar; admitir, concordar; produzir; parir, criar; contagiar, propagar, pegar; suportar; renunciar a; auxiliar, beneficiar;
v. int., fazer esmolas, presentes, dádivas; ocorrer, manifestar-se; originar-se; brotar, reflectir; revelar-se; ir de encontro a;
v. refl., tomar resolução; acomodar-se; conviver, viver em harmonia; dedicar-se, entregar-se.

É tão mais fácil seguir ordens, não ter que pensar, executar. Fazer tudo aquilo que não nos atreveríamos a fazer sozinhas, mas que fazemos porque o Dono mandou. Transferir a responsabilidade dos nossos actos para outrém. A troco de protecção, cuidados, mimos. Nunca acreditei nisso. Pode até parecer tentador, mas não é real.
Por isso já vi submissas a reclamar a sua entrega de volta. A entrega não tem volta, não tem contrapartidas. Uma escrava quando se dá, dá-se. Não espera nada em troca - é isso que a distingue das outras mulheres. Aquilo que se recebe resulta do próprio prazer em dar - atenção, amor, dedicação, prazer ao Dono. E quando se excede, quando se ultrapassa para dar prazer ao Dono, toma na mão a responsabilidade dos seus próprios actos.
Antes de ser um excepcional ambiente de cumplicidade e intimidade, uma relação bdsm é um profundo mergulho dentro de si mesma, com todas as vantagens e consequências que daí advém.

Wednesday 22 October 2008

O PROMETIDO É DEVIDO


Tenho prometida uma tareia. Pergunto-me porque alguns dominadores, sem serem sádicos, gostam de bater e porque algumas submissas, sem serem masoquistas, gostam de apanhar.
Sem querer extrapolar, detenho-me naquilo que eu sinto.
É certo que apanhar tem um efeito de purga, apanhar purifica, limpa, como que se, através da dor, se expelissem todas as impurezas juntamente com todos os pecados. Apanhar é libertador.
Mas apanhar é também uma forma de manifestar submissão ao Dono. Baixar-se perante a mão que bate pode ser, também, simbólico : o domínio do mais forte sobre o mais fraco, a rendição, a submissão ao vencedor.
As boas notícias não ficam por aqui : Como resposta à dor, o cérebro produz anandamida, um canabinóide natural e endorfinas que além do conhecido efeito analgésico - por exemplo o runner's high dos atletas - melhoram a memória, o estado de espírito, provocam bom humor, aumentam a resistência e a disposição física e mental, reforçam o sistema imunológico, bloqueiam lesões dos vasos sanguíneos, e combatem os radicais livres, sendo por isso um óptimo factor anti-envelhecimento.
Tenho prometida uma tareia, evidentemente não sei quando nem como. Mas sei que nesse momento não me vou lembrar das explicações, as científicas e as outras. Vou estar demasiado ocupada a senti-la.

Tuesday 21 October 2008

A PENSAR NO DONO

É o meu primeiro pensamento quando acordo e o último antes de adormecer. Durante o dia está sempre comigo, nas pequenas coisas, nas grandes decisões, inteiramente presente ou de forma velada. Agora invade-me também os sonhos. Como tinta que alastra sobre um mata-borrão, o meu Dono toma posse da minha vida.

Sunday 19 October 2008

UTILIDADES DE UMA ESCRAVA SUBMISSA

São inúmeros os usos que o Dono pode dar a uma escrava submissa

Desde logo os mais óbvios,

A satisfação sexual do Dono


A satisfação dos Seus instintos mais sádicos,


dos Seus desejos mais perversos,

ou muito simplesmente da Sua vontade de descarregar a Sua irritação ou a Sua ira em relação a outras pessoas ou situações.


A realização das Suas fantasias ou fetiches, sejam eles quais forem


A veneração da Sua pessoa


A manutenção do Seu conforto e bem-estar


Até um uso mais prático

para um dia-a-dia mais confortável


Das mais óbvias às menos evidentes


Das mais básicas às mais criativas


De pequenos serviços domésticos

Até empilhar a lenha para o Inverno
São inúmeras as utilidades de uma escrava submissa. Tão vastas as possibilidades quanto a imaginação fértil do Dono.

DAS RELAÇÕES


É um lugar-comum comparar os cuidados com as relações entre as pessoas com os desvelos na conservação das plantas. É comum ouvir-se dizer que tal como as plantas, as relações tem que ser cuidadas, tem que ser regadas. Mas, uma coisa é a teoria, outra a prática. É que nem todos somos bons jardineiros...

Casamento : É talvez a mais delicada das plantas e a que exige mais cuidados. Como um bonsai, um casamento necessita de um verdadeiro especialista. Na verdade, para cultivar um casamento, é preciso ter arte. Dar-lhe a luz e a sombra que precisa, a quantidade de água exacta, nem a mais, nem a menos, arejamento suficiente e ser mestre na poda. Saber quais são as hastezinhas que devem ser podadas, manter-lhe a forma e o tamanho original. De tempos a tempos, precisa de ser adubado. Um bonsai bem cuidado pode resistir anos e anos, mas o objectivo é nunca deixa-lo ter a forma que quer. Há mestres que falam com o seu bonsai, e parece que obtem melhores resultados. No entanto, esta é uma planta para apreciadores, já que o objectivo é nunca faze-la perder a forma e o aspecto originais e faze-la perdurar no tempo.

Amizade : Basta ter os cuidados básicos, rega ocasional, boa luz e a amizade, como uma planta autóctone, terá as condições ideais para crescer e florescer. Requer muito menos atenção do que um casamento.

BDSM : Embora seja o tipo de relação que requer menos cuidados, ainda assim uma relação bdsm não deve ser deixada ao acaso. Como os cactos e outras suculentas, são os excessos de água e nutrientes que as fazem sucumbir. Uma relação BDSM resiste a ambientes agrestes, hostis, a extremos de calor, à ausência de cuidados. Bem enraízada, uma relação BDSM subsiste a tempestades de areia, monções e seca prolongada.
Há relações bdsm que parecem verdadeiras alucinações como um peyote, outras são curativas, como um aloe vera.
E ainda, como um cacto, esconde bem guardado dentro de si, para quem saiba retirar-lhe os picos, um delicioso e nutritivo sumo.


Wednesday 15 October 2008

DONO EXIGENTE


Adoro quando o meu Dono me faz exigências. Quando me olha tranquilamente nos olhos e me diz pausadamente e sem sombra de hesitação, Quero isto ou Quero aquilo. Adoro vê-lo espraiar-se no Seu papel de Dono até Um e Outro se tornarem indissociáveis, acomodar-se ao Seu poder sobre mim como quem regressa confortavelmente a um sofá que já tem os seus contornos. Sinto-o distintamente alargar-se, estender-se, alongar-se, como se, de facto, Ele crescesse diante dos meus olhos admirados, um ou dois tamanhos. Adoro quando me mostra deliberadamente que tem certezas das coisas, que quando dá uma ordem sabe de antemão que vai ser cumprida - por muito difícil, extrema ou dolorosa que seja para mim - e embora eu ainda não faça a mínima ideia como. Adoro quando remexe dentro de mim, me faz fuçar nos meus medos, nas minhas angústias, nas minhas limitações e me leva muito para além de onde eu, algum dia, poderia esperar ir.

Tuesday 14 October 2008

SEM OPÇÃO


Enquanto Minha propriedade vergas quando, como e quantas vezes Eu quiser.
Não há opção b.

BDSM PURO E SIMPLES


Quando se fala em bdsm é quase inevitável a associação a vinyl, preto, toda uma parafernália de acessórios mais ou menos sofisticados. Chicotes xpto. Máscaras importadas. Narizes submissos colados a montras de sex-shops. Dress code. Cenários à média-luz. Jaulas, masmorras último grito.

Eu, uma boa parte dos momentos inesquecíveis, intensos com o meu Dono, vivi-os sem efeitos especiais. Sem música de fundo. Toda nua, à luz crua do dia, no chão frio da cozinha.

Thursday 9 October 2008

NA PONTA DE UM FIO


Se, num dia de vento, virem por aí um papagaio a voar na ponta de um fio, por muito comprido que seja, olhem duas vezes. Provavelmente serei eu, sempre à distância de um puxão do meu Dono.

Tuesday 7 October 2008

THE MEANING OF LIFE


“Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que as nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntima, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.”


O meu Dono não gosta de surpresas. Era assim que começava um post que, como tantos outros, nunca cheguei a publicar. Não há portanto, desconhecimento. Porque razão iria eu então fazer uma coisa que sei de antemão que o meu Dono não gosta? Faço mentalmente um rewind, analiso tudo o que fiz e disse nos ultimos tempos e que possa parecer-se, ainda que vagamente, com uma surpresa. Na urgência em perceber que me tira o sono, detenho-me em alguns pontos, na própria definição de surpresa. A angústia provoca-me uma sensação estranha parecida com um enjoo e a noite não passa.


Saturday 4 October 2008

VAZIA


O meu Dono descobre dentro de mim coisas que eu mesma desconhecia. Uma atrás da outra derruba paredes, destrói barreiras, escarafuncha até ao ponto mais recôndito do meu corpo como da minha mente, sacode todas as estruturas, revira todos os cantos até não deixar nada de pé. Destituí-me de tudo, deixa-me sem nada a que me possa agarrar. Assim, completamente vazia, posso finalmente começar a ambicionar pertencer-Lhe.

SO DO I


"In you I see dirty
In you I count stars
In you I feel so pretty
In you I taste god
In you I feel so hungry
In you I crash cars"

Friday 3 October 2008

UMA BORBOLETA


Foram precisos quase dois anos até o meu Dono resolver usar cera quente em mim. Os pingos de cera colorida, que o meu Dono ia deixando lentamente cair, uma após a outra, a ferver, bem próximo da minha pele, iam provocando sensações muito além da epiderme e deixando sobre o meu corpo nu uma curiosa obra de arte a três cores. Fiquei linda. Foi, claro está, inesperado, intenso e delicioso. Mas não menos do que o que se seguiu. Obrigada, meu Dono, por tudo o que me faz sentir.

Wednesday 1 October 2008

MAKE IT SIMPLE

A minha ligação ao meu Dono tem contornos que estão para lá da minha compreensão. Não vou falar das coincidências que me deixam sempre assombrada, nem das sincronicidades e de outras manifestações do inexplicável. Nem vou falar da comunhão, da cumplicidade quase visceral, da intimidade tão profunda quanto natural. Nem de coisas mais difíceis de acontecer do que encontrar uma minúscula agulha hipodérmica num palheiro enorme.
Falo do meu espanto ao ver-me reagir contra todas as probabilidades, falo da minha incredulidade ao desafiar a lógica e do meu divertimento a ver cair por terra silogismos que me levaram tantos anos a elaborar. Falo de convicções meticulosamente construídas ruirem a um sopro do meu Dono.
E da minha surpresa quando sozinha perante puzzles gigantes, a tentar resolver quebra-cabeças insolúveis, constato surpreendida que afinal é tudo tão simples.
E, se ainda assim alguma dúvida persiste, divido-me em duas, a que está fora e a que está dentro. E a que está dentro esquece tudo o que aprendeu, apaga todas as regras, elimina todos os princípios, excepto um - o que manda obedecer.
Talvez quem está de fora veja apenas um animal assilvestrado que aos outros exibe as garras afiadas, as presas brilhantes e ao chegar ao pé do Dono, se roça docilmente pelas Suas pernas.

Monday 29 September 2008

DORMINDO COM O INIMIGO


Foi quando ouvi a porta fechar que percebi que não tinha mais tempo. Ainda assim dirigi-me a Ele com um sorriso inocente. Fui recebida com um estalo na cara. Se houvesse dúvidas, ter-se-ia percebido de imediato quem manda. É assim que esperas pelo Dono? O meu Dono agarra-me com brusquidão pelos cabelos e arremessa-me violentamente para o chão. Agarrada como um saco, senti como nunca a força do meu Dono. Outro estalo na cara. Se eu quisesse uma dondoca, tinha arranjado uma. Um safanão. Nunca tinha sentido aquela sensação de inevitabilidade antes. De repente, tudo se volta a resumir a mim e Ele. Compõe-te. O meu Dono virou costas e foi para sala. Despi-me, o mais rápido que consegui, e corri ao meu quarto a buscar a coleira. Curioso, como tudo se dissipa em tão curto espaço de tempo. Aproximo-me, de cabeça baixa, temerosa e expectante. Novo gesto brusco e estou de novo rente ao chão. Incompetente. E perco Eu o meu tempo com isto. Merda de escrava. Com o pé, o meu Dono empurra-me mais para a Sua frente, apoia os pés no meu dorso, acende um cigarro. Cinzeiro. Voo a buscar qualquer coisa que se pareça com um e volto para a minha posição de repousa-pés em frente ao meu Dono. Com cinco pedras de gelo. Corro de novo à cozinha. És lenta, entediante. (Desculpe, Senhor, balbucio) Entrego o copo nas mãos do meu Dono e posiciono-me. Entre pontapés e sacões o meu Dono esfrega os pés ainda calçados no meu corpo. Espanta-me como ao invés de me repugnar, me é indiferente, a mim que quase sofro de ocd, como se, nos sapatos do meu Dono, até a sujidade da rua fosse imaculada. O meu Dono agarra-me pelos cabelos e faz-me olhar para Si. Envergonhada por ter que O olhar nos olhos, pensei que fosse continuar a mostrar o Seu desagrado por palavras, mas percebi que não, quando sem aviso me cuspiu na cara uma, duas vezes. Metes-me nojo. (Desculpe, Senhor!). A saliva espessa, abundante escorre-me pela cara, cola-me as pálpebras, deposita-se-me nas reentrâncias. Depois aparentemente mais calmo, o meu Dono começa a falar. (Eu deveria saber - recrimino-me para dentro - mas ando demasiado ocupada com as minha insignificâncias) Curioso, como tudo se relativiza de um momento para o outro. Cigarro após cigarro, eu ouço e comovo-me. Como se tivesse andado desgarrada e agora voltasse ao meu lugar.
O meu Dono faz menção de se levantar, com o pé mostra-me que devo seguir de gatas à Sua frente. Vou abrindo as portas, primeiro a do hall, depois a da casa de banho. Levanto a tampa da sanita. O meu Dono levanta a segunda tampa e posiciona-me a cabeça de lado (que se foda o cabelo tratado com máscara de oleo de noz biológico, lavado com shampoo de aloe vera e docemente massajado com amaciador!), eu ponho a língua de fora, sorvo o primeiro fio de urina. Abro a boca, a servir de receptáculo. O meu Dono pára. Engole. Engulo de um trago. E continua a encher-me a boca de mijo. Deita fora. Engole. Deita fora. Impressionante o tempo que se passou ou terei sido eu a tentar eternizar o momento? Lambo as últimas gotas, uma a uma, enlevada.
Voltamos a sala, eu de gatas à frente do meu Dono. O Dono vai fumar o ultimo cigarro - está definitivamente mais calmo. Vamos deitar (Será que vai ficar? Vai ficar? VAI FICAR!) - quer que durma na cama ou no chão? Na cama, pode apetecer-Me usar-te. E - obrigada, meu Dono - apeteceu. Um após o outro, todos os meus buracos. Nomeia-o e posiciono-o junto ao Seu sexo, um após o outro, boca, cu, cona, cu, boca, cu, boca, cona, cu.
O meu Dono adormece, relaxado, tranquilo - sei pela respiração profunda, pelo sibilar do ar entre os lábios semi-abertos.
Cubro o meu Dono com cuidado para não O acordar e tomo o meu lugar, a cabeça junto ao Seu abdómen, perto do sexo.
Incontrolada, masturbo-me a rever as memórias ainda frescas, mais as fantasias depravadas, inconsequente deixo-me vir - num orgasmo longo, fundo, avassalador - que daqui a pouco, depois de acordar o meu Dono com um broche demorado, me há-de custar um valente estalo na cara.
Encostada ao meu Dono, suficientemente perto para estar em contacto com a maior extensão possível do Seu corpo, suficientemente longe para não Lhe fazer calor nem o perturbar, zelo pelo sono do meu Dono num estado de letargia que só atingo nestes momentos preciosos.

Wednesday 24 September 2008

ÚNICA VS ÚTIL


Gostava de ser única para o meu Dono. Gostava de Lhe dar algo que ninguém Lhe tivesse dado, de fazer algo que ninguém Lhe tivesse feito. Gostava que sentisse comigo coisas que nunca tivesse sentido antes, leva-lo a lugares onde nunca tivesse estado.

Mas nada que eu possa fazer é novidade, nada me distingue, não Lhe posso proporcionar nada de novo. Nada que não tenha, sem esforço, ao virar da esquina. Por muito que me esforce não Lhe consigo oferecer nada de diferente, nada de original.

Excepto, parece, uma leve sensação de conforto.

Friday 19 September 2008

DON'T OFFER ME ROSES


Por favor Senhor, seja o meu Dono.
Não me ofereça rosas, arranhe a minha pele com os espinhos. Não me leve a jantar fora, faça-me comer de uma tigela no chão.
Amarre-me até os sulcos das cordas marcarem a minha pele e eu ficar incapaz de me mover, vulnerável, à Sua disposição. Depois, não me acaricie, bata-me até a minha carne mudar repetidamente de cor até sob a pele se formarem borbotos. Não faça amor comigo, penetre a frio de uma só vez a minha cona e o meu cu, meta a Sua mão dentro de mim até eu sentir a carne rasgar, os musculos dilacerar e as minhas entranhas moldarem à forma da Sua mão.
Por favor Senhor, para Seu prazer torture as minhas mamas, retorça os meus bicos com as pontas dos Seus dedos hábeis, craveje-os de molas, trespasse-os com agulhas. Depois, quando estiverem bem doridos, pingue neles cera a ferver até as lágrimas espicharem dos meus olhos.
Por favor, meu Dono, invente mil formas de me torturar, de me atormentar unicamente para o Seu gozo. E não se comova com os meus lamentos, amordace a minha boca para que não O importune com os meus gemidos. Se eu pedir para parar, aumente a intensidade da dor. Por favor Senhor, faça-me ver nos Seus olhos o prazer de me martirizar.
Por favor, meu Amo, agarre-me pelos cabelos e faça-me chupar o Seu sexo grande e duro, penetre a minha boca a e minha garganta até eu engasgar e quase sufocar.
Por favor meu Dono, faça-me provar os Seus néctares, cuspa dentro da minha boca, derrame em cima de mim o Seu mijo, cubra-me com a Sua esporra. Depois, toda a escorrer os Seus fluidos, faça-me ajoelhar aos Seus pés e prestar-Lhe vassalagem.
Não me ofereça presentes meu Dono, por favor. Entenda que a minha submissão é desinteressada e o único presente é dar-me a oportunidade de me rojar aos Seus pés.
Por favor Senhor, controle a minha vida, como coisa Sua que sou. Controle o meu prazer, a minha dor e tudo aquilo que eu sinto. Doseie o meu desejo, a minha devassidão, a minha comida, o ar que respiro. Torça-me, vergue-me, dobre-me, amasse-me, por favor não desista de me moldar a Si.
Eu sou a Sua escrava, meu Dono, pertenço-Lhe por inteiro e é assim que deve ser.


Thursday 18 September 2008

CADELA DE PAVLOV


Nada de enganos, continuo cadela do Senhor JB.

Mas dei comigo a pensar outra vez no reflexo condicionado - aplicado ao bdsm.
Uma estratégia simples para levar a escrava a ultrapassar limites, associando dor a prazer ou humilhação a prazer ou degradação a prazer.
Imagino que seja por isso que sempre que o meu Dono me sujeita a dor intensa ou a práticas mais hard me manda ao mesmo tempo masturbar.

Afinal, Snr. Pavlov, tinha feito melhor se tivesse arranjado uma escrava...

POST SCRIPTUM


E com toda a certeza muito menos nojentinha

ESPELHO, ESPELHO MEU...


Desde que sou escrava do Senhor JB eu estou :

mais desavergonhada
menos complicada
mais essencial
menos ciumenta
mais exigente comigo mesma
mais indulgente com os outros
mais tranquila
mais positiva
mais genuína
mais equilibrada
mais assertiva
mais prática
mais tolerante
menos egocêntrica
mentalmente mais arrumada
mais atenta
mais pontual
mais criativa
incomparavelmente mais livre
muito, muito mais feliz

(e até já gosto mais das minhas mamas)


Saturday 13 September 2008

SIM, SENHOR


E ainda vamos falar sobre teres cortado os pelos

Thursday 11 September 2008

HAPPY ATÉ NÃO PODER MAIS



Adoro surpresas. O meu Dono sabe o quanto adoro surpresas. Mas, condição essencial para apreciar como deve ser uma surpresa, é deixar-se surpreender. E, para se poder surpreender convem não esperar. Não criar expectativas. Nem barreiras, a surpresa precisa de espaço para se desenrolar. Surpresas são como manchas de tinta, podemos cobri-las com um mata borrão ou deixa-las espraiar e ve-las criar sozinhas infindáveis desenhos psicadélicos. Depois, é preciso saber gozar todos os detalhes da surpresa : o que está subjacente, e como a maior parte do iceberg, não é visível; o que é óbvio, mas que a muitos olhares passaria despercebido.

Surpresa nr. 1. O telefone apita logo de manhã. O meu Dono lembrou-se. Estender da surpresa, lembrou-se logo de manhã. A mancha de tinta alastra.
Uns minutos antes da hora marcada, o telefone toca, eu desço. Por essa altura começo devagarinho a descolar do chão.
Surpresa nr. 2. O sítio. Especial, cheio de pequenos requintes silenciosos. Surpresa nr. 3. As cores. Tons fortes, cores quentes, misturas arriscadas. Surpresa nr. 4. Os cheiros. Deixo-me encharcar de perfumes, até não poder mais. Afrodisíacos, inebriantes. Gengibre, canela, cardamomo. Surpresa nr. 5, sabores. Levemente picante, agridoce, o aveludado do molho a desmanchar-se na boca, a textura lisa, suave. O frescor da menta, o calor do caril. O Evel branco sorvido aos poucos, enquanto tudo à volta se começa a esvair em névoa cor de oriente.

E, quando penso que não podia ser melhor, surpresa nr. 6, descubro que claro que pode. O molho espesso de chocolate quente derramado sobre o bolo e em linhas aparentemente negligentes sobre o fundo branco do prato. As gotas de doce de frutos silvestres deixadas cair aparentemente ao acaso numa linha semi-curva. As rodelas impecavelmente iguais de gelado, de onde se adivinha um leve sabor a baunilha, salpicadas de côco e raspa de chocolate. Quente e frio. Alternadamente na boca pela mão do meu Dono, surpresa nr. 7 - crème de la crème . Fecho os olhos para poder saborear melhor. Devaneio sensorial. Já não há conversas de fundo, nem clientes, nem empregados. Apenas uma surpresa que continua a abrir-se, imparável. Por momentos ficamos sozinhos na sala, eu, o meu Dono e a fantasia por onde me deixo conduzir de olhos fechados. Os estores correr-se-iam e eu seria usada, um a um por todos os homens da sala. Sinto o poder na expressão do meu Dono, o poder de tornar a fantasia real.

Já cá fora, encontro o meu Dono sentado nas escadas a fumar um cigarro. Peço permissão para fumar um também. Sabe bem como aquele cigarro depois do sexo. Sinto-me quase extenuada de gozar tanto o momento. O calor dos condimentos, o odor das aromáticas, os contrastes quase perigosos, os mimos do meu Dono, que melhor prenda de anos poderia eu querer?

Wednesday 10 September 2008

CRIME E CASTIGO


Falhei no cumprimento de uma ordem. Era uma ordem de base, clara, inequívoca. Não havia a mínima possibilidade de confusão, o meu Dono foi peremptório. Por muito que procure não encontro atenuantes, vejo apenas justificações tão sólidas como castelos de cartas. Sei que sou impulsiva e que tiro conclusões precipitadas. Sei que são pontos que tenho que trabalhar, sei que já consegui alguns resultados. Mas agora falhei redondamente e sinto-me envergonhada e miserável por não ter correspondido às expectativas do meu Dono. Resta-me pedir-Lhe desculpa com os olhos no chão. E esperar o castigo.

Wednesday 3 September 2008

ESCRAVA COM ASAS

(pormenor de foto de Sérgio C. /Revista Dominium)



Obrigada meu Dono por me deixar andar à solta, saltitar, fazer piruetas: Como Sua propriedade, poderia ter-me enclausurada, fechada a sete chaves, engaiolada, mas prefere dar-me asas, partilhar-me com quem muito bem entende. Com a certeza absoluta de que, a um sinal Seu, eu estou aos Seus pés no mesmo instante. Reservada para os momentos de intimidade fica a trela, o cabresto, a gaiola. Guardadas para momentos especiais as cordas, as correntes, as algemas.


INCOMPETÊNCIA



Sou uma pessoa muito calma, paciente, tolerante. Há muito poucas coisas que me tiram do sério. Cada vez menos opiniões, actos, comportamentos dos outros me afectam. Mas há uma coisa que me deixa com os nervos em franja, a mim, essa mulher sossegada, serena, zen : entrar em algum sítio atrás do meu Dono e que o atendimento não seja impecável. Nessa situação, a mim, essa mulher tranquila, pacífica, plácida, apetece-me imediatamente bater em toda a gente, chamar-lhes incompetentes, empurra-los, mostrar-lhes como se deve tratar o meu Dono. A mim, a escrava do Senhor JB, é-me impossível conformar com o facto de alguém poder trata-Lo com menos atenção do que a que merece, com menos deferência, veneração do que tem direito. Com a permissão do meu Dono saio e não volto a esse sítio nunca mais.



Thursday 28 August 2008

PRAZER PROIBIDO



Às vezes várias vezes ao dia, às vezes várias vezes seguidas. Toco-me sem me deixar vir. Aprendi por imposição um novo e insuspeitado prazer em conter o orgasmo, que ultrapassa o imediato e fulminante, o pronto-já-está-vira-te-para-lá-e-dorme. Provoco-me com pensamentos, com toques mais ou menos bruscos, mais ou menos demorados, com ordens inventadas, com vozes autoritárias dentro da minha cabeça. Com objectos, com as mãos , com jactos de água contra a pele arrepiada, com contracções e relaxamentos alternados, com dedos que deslizam pela pele escorregadia, que penetram, que esfregam, que beliscam, que tão depressa quase esmagam o clitóris como o afloram com uma delicadeza inesperada.Transporto-me para cenários de lascívia, perversão ou, mais raramente, cenas de paixão intensa onde vozes brandas me conduzem por prazeres delico-doces, diferentes formas de me mimar. Prolongo o prazer por tempo indeterminado, até atingir aquele ponto de quase não-retorno em que tenho que me esforçar para inverter o fluxo, o corpo retesado para não deixar transbordar o êxtase, mantenho-me num patamar de prazer intenso, duradouro, viciante, na antecâmara de um orgasmo iminente que nunca chega a acontecer. Porque Ele não quer.


Wednesday 27 August 2008

ECHOES



Adapto-me aos traços do meu Dono, como água que escorre num leito acidentado. Os meus braços tem a forma do Seu corpo, os meus pensamentos o contorno da Sua alma.

Estico-me e encolho-me à medidas das Suas vontades, acendo-me ou apago-me conforme os Seus desejos.

Procuro começar a existir logo onde o meu Dono acaba, sem intervalos nem espaços em branco, como prolongamento Seu que sou. Procuro derramar-me no chão como a Sua sombra ou estender-me repetidamente no espaço como um eco de Si.

Tuesday 26 August 2008

TRICKY QUESTION...















"Se pudesses escolher preferias evoluir na dor ou na degradação?" - Fiquei com a pulga atrás da orelha. A pergunta contem em si o efeito nr. 1 : sinto-me cercada, sem escapatória possível. E imediatamente molhada. Mais rápida do que eu, a minha mente visualiza num ápice todos os possíveis cenários.

Nunca minto ao meu Dono, mas admito que, por vezes, ainda tenho aqueles pensamentos tortuosos próprios das mentes femininas...Penso qual a resposta que mais Lhe agradaria ouvir. Penso no objectivo da pergunta. Continuo em silêncio, a minha imaginação sobrevoa todos os pormenores. Prazer por antecipação.

Já estou habituada, as minhas frustrações advem invariavelmente de conflitos de atracção-atracção. Entre querer isto e querer aquilo é-me sempre díficil escolher. E, qualquer que seja a minha resposta, o resultado afigura-se-me como escolher entre a panela de água a ferver ou cair no lume...

Ainda atordoada de indecisão, respondo baixinho : Na dor, meu Dono...